domingo, 20 de abril de 2008

Enem expõe ensino público em Pernambuco

Publicado no JC e no Blog de Jamildo neste domingo (20/04)
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Menos de 10% das escolas da rede estadual, cujos alunos ou ex-alunos participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), obtiveram nota igual ou superior à média nacional, que foi de 51,27.
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Em Pernambuco, foram avaliados estudantes de 673 colégios nas 184 cidades do Estado. Não chega a 50 o número de estabelecimentos que somaram 50 pontos ou mais. O baixo desempenho foi constatado pelo Jornal do Commercio, a partir das notas divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC) que disponibilizou o resultado do exame por escola e por município.
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A Escola Trajano de Mendonça, localizada no bairro de Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife, teve a maior nota do Estado, com 54,38. A média mais baixa, 32,19, ficou com a Escola Presidente Costa e Silva, situada no município de Chã de Alegria, na Zona da Mata. Por terem metodologias de acesso ou de trabalho diferenciadas, foram excluídos do ranking o Colégio da Polícia Militar de Pernambuco, os Centros Experimentais Ginásio Pernambucano e de Bezerros, a Escola do Recife e os Colégios de Aplicação de Nazaré, Garanhuns e Petrolina, esses quatro últimos vinculados à Universidade de Pernambuco (UPE).
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Ao se comparar o desempenho das escolas estaduais com as unidades privadas, é possível observar a grande lacuna existente entre as duas redes. O colégio particular de Pernambuco melhor colocado somou 78,22 pontos, quase 24 a mais que a melhor escola estadual.
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Para o diretor-adjunto da Escola Trajano de Mendonça, Ranieri Siqueira, a receita para o bom desempenho está na disciplina, no corpo docente comprometido e qualificado e na boa relação com alunos e suas famílias. Com 1.584 estudantes dos ensino fundamental e médio, além da educação especial, a unidade de ensino dispõe de biblioteca e auditório. Tem também laboratórios de informática e de ciências, sem uso por falta de pessoal ou de qualificação dos professores.
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“Meu pai pensou em me transferir para uma escola particular, mas eu não quis. Gosto de estudar aqui. O ensino é excelente, os professores gostam de ensinar e a direção sabe ao mesmo tempo ser exigente e amiga dos alunos”, afirma Luth Vinícius, 19 anos, aluno do 3º ano. Professor da escola há 15 anos, Geraldo Baracho também leciona na Escola do Recife. Apesar de ambas serem estaduais, ele diz que as realidades são bem diferentes. “Nos preocupamos com o aprendizado do aluno. Mas falta o Estado valorizar mais nosso trabalho, pagando melhores salários”, diz Geraldo.
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Na escola estadual com o desempenho mais fraco, em Chã Grande, a maior queixa dos alunos é a falta de professores, situação que a diretora, Isabela Souza, confirma existir. “Tem professor que falta muito”, diz Daniele Monaly, 15, do 2º ano. “Várias vezes eles chegam atrasados”, conta Micilene Rodrigues, 13, da 8ª série. “Tem alunos preguiçosos, mas há também professores que não se esforçam para dar uma boa aula”, complementa Elma Cristina, 14, do 1º ano.
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Para a professora Maria Moreira, a realidade da escola é a mesma de muitas outras da rede. “O laboratório de informática não funciona. O acervo da biblioteca é ruim. A maioria dos nossos alunos do 3º ano trabalha e estuda à noite. Muitos têm dificuldade de conciliar escola e trabalho e só querem o diploma do ensino médio. Nem papel para imprimir provas nós temos”, observa Maria. “Estamos cada vez mais desestimulados, mas nem por isso deixamos de fazer nosso trabalho. Acredito na escola pública, mas tem que haver mudanças para que nosso alunos aprendam de fato.”
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Um comentário:

  1. Eu fui aluna de escola pública e sei o que é isso, falta de professor e má qualidade de ensino.
    O enem não trará benéficios ao alunos da rede plública de ensino.

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