sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sobre gestão e educação

Por Luiz Horácio
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Essa é a visão de um gestor público na Educação. As coisas que o ministro Haddad diz não garantem que a escola brasileira será boa ou má, se será uma boa educadora ou não, mas afirma que pelo menos a parte gerencial será cuidada. Pode parecer suficiente, para a realidade educacional brasileira, mas não é. A Educação decaiu demais desde os anos 50 e 60. Os anos 70 já foram problemáticos, com o tecnicismo que entrou em vigor e com o banimento das disciplinas críticas ligadas às Ciências Humanas. Basta ver o perfil majoritário dessas gerações e os resultados construtivos e os problemas que essa orientação causou. Depois de 80, com o avanço das crises, dos conflitos, da estagnação e das "transições", a coisa piorou bastante. A transição foi para pior. Mesmo as escolas ditas de "excelência" hoje são de qualidade muito questionável, diante das possibilidades que têm a educação hoje e daqui para a frente. A distância é abismal.

Há um cerne educativo, uma razão de ser básica e principal, que nunca é debatida pelos gestores nos escalões superiores. É preciso saber pensar a escola em profundidade, seus conceitos, seus valores, e não apenas conduzi-la ou melhorá-la através de uma gestão racional. A escola deve nascer da discussão profunda e fundamentada sobre a escola, e sempre de forma participativa. A ausência dessa discussão nas últimas décadas é que provocou esse enorme distanciamento entre o que é feito e o que poderia estar sendo feito.

Há a questão fundamental do espaço escolar, a forma como se dispõe, se coloca e opera, em cada comunidade. Quando os estudantes se inserem nesse espaço, que tipos de reflexão, de fruição ou reivindicação podem ou devem passar a ter, nos dias atuais, na forma atualizada? Como é o espaço disponível para cada disciplina, para a inter e a multidisciplinaridade. Qual é a liberdade, a curiosidade, a necessidade de aprender, em cada unidade? Com que apoios pode contar, que atividades pode desenvolver, que interação e que redes podem se efetivar entre as variadas escolas, do mesmo nível escolar ou de níveis diferentes? E nem foi preciso falar em Secretaria da Educação ou Ministério da Educação para dizer tudo isso, pois são questões essencialmente educativas.
Incrível que FHC tenha feito o único pleito a Alckmin sobre a recolocação de Paulo Renato nesse cargo. A gestão dele foi uma das que mais contribuirão para o desmonte e a decadência da escola em SP e talvez no Brasil. O elitismo, o mercantilismo com os materiais, a amarração a diretrizes estreitas e reducionistas dos economistas, esses e outros vícios se aprofundaram com a "fórmula" neoliberal que foi empregada, num país ainda em desenvolvimento e com enorme desigualdade. A impropriedade dessa política pode-se ver nos resultados. Um desastre total! Total! Que irá afetar milhões de famílias, durante décadas. E essa concepção esdrúxula e estapafúrdia de que a educação deve ser um bem de consumo, separando o ensino público, meramente (des) alfabetizador, do privado, garantindo o acesso (duvidoso) apenas ao ensino privado e de concepções mercadistas.

A evolução da educação (será que essa "evolução" é uma coisa boa?) se daria mais nos campos educacionais do que técnicos, mais na filosofia educacional que na gestão de base economicista, e não sei se é um critério adequado. Evolução... Se a gente pensar que a escola começou pra valer na Grécia Clássica, que a academia era o lugar de Platão e Aristóteles e seus alunos, que esses desvendaram o conhecimento e a ilustração para a humanidade, em sua era, querer fazer evoluir a escola é uma coisa complicada, apesar de não ser impossível.

Apesar da visão crítica, acredito que Haddad possa estar no caminho, desde que ouse avançar em toda amplitude de gestão de que a Educação brasileira necessita. É preciso ter uma base racional de gestão e é preciso ter a disposição de um jovem.

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